sexta-feira, 6 de julho de 2012

DA CAMA...

DA CAMA sacudiste um cobertor,
Estavas à espera, de costas deitado;
Dormitavas, vigilante na noite que revelava
Sórdidas imagens aos milhares
De que era feita a tua alma;
Trémulas imagens contra o tecto.
E quando todo o mundo regressou
E entre as persianas se arrastou a luz,
E escutaste nas goteiras os pardais
Tiveste certa visão da rua
Que a rua quase nem entende;
Pela beira da cama, sentada, onde
Enrolavas papelotes no cabelo,
Ou apertavas a planta dos pés, amarelada,
Na palma suja das mãos ambas.

T. S. ELIOT (1888 – 1965) – Prufrock e Outras Observações
(tradução de João Almeida Flor)

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