quarta-feira, 11 de julho de 2012

SONETO QUE CONTÉM UMA FANTASIA SATISFEITA COM AMOR HONESTO


   Detém-te, sombra do meu bem esquivo,
imagem do feitiço a que mais quero,
ilusão por que na morte me lacero,
doce ficção por que penosa vivo.
   Se ao íman de tuas graças, atractivo,
obedece o meu peito, aço fagueiro,
- para que me enamoras, lisonjeiro,
Se hás-de enganar-me logo fugitivo?
   Mas gabar-te não podes, satisfeito,
de que triunfas de mim por tirania:
que, deixando enganado o laço estreito
   que a quimérica forma te cingia,
pouco importava enganar braços e peito
se te é prisão a minha fantasia.

SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ (1651 – 1695)
Antologia da Poesia Espanhola do Siglo de oro – Barroco
(tradução de José Bento)

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