quinta-feira, 12 de julho de 2012

O QUE DISSE BILL

Bill disse: <<Houve um tempo em que precisei
de palavras, das minhas e das dos outros.
Porque eu era cego, surdo e mudo,
e as palavras eram o meu bordão, os meus ouvidos e a minha
                voz.
Hoje sou ainda cego, surdo e mudo,
mas não preciso de palavras
porque todos os caminhos por onde vou
partem de mim e por eles regresso,
e porque aquilo que ouço e me ouve
habita em mim (eu, o número mais pequeno),
e porque as palavras são um longo caminho para chegar onde
                estou>>

O Mestre não respondeu (Rinzai Ma-tsou ter-lhe-ia dado
                Com um pau) pois,
ao contrário de Bill, não tinha para dizer nada
que pudesse ser dito com palavras ou sem palavras.

MANUEL ANTÓNIO PINA (1943) – os Livros

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