quarta-feira, 4 de julho de 2012

PARECE...

PARECE que me rio desta fortuna
Em que o rio se acende e sobe às pontes
E não sabe deter a luz da água.

Mas de noite choveu e os riscos de veludo
Na colcha deste céu fizeram-me chorar
A gatinhar na alma.

Só eu ia no carro e a criança do amor
Transitava nos corpos
E a nenhum dava calma.

O som era um coro de pedras a bramir
Baixios a que a minha condução
Me condenava.

Num porto secular leixava-me, ir
E os músculos soberbos inchados pela tristeza
Erguiam no ar monumental beleza.

ARMANDO SILVA CARVALHO (1938) - Sol a Sol

Sem comentários:

Enviar um comentário