domingo, 22 de julho de 2012

VEIO UM BARCO...


Veio um barco,
Um homem sustendo sua vela,
Conduzindo-o com remo preso às falcas, dizendo:
<<Lá, na floresta de mármore,
                as árvores de pedra – emersas d’água –
                as frondes de pedra –
                lâmina de mármore, sobre lâmina,
                prata, aço sobre aço,
                bicos de prata erguendo-se e cruzando-se,
                proa ajustada contra proa,
pedra, camada sobre camada,
                reflete o ouro a flama de uma noite>>
Borso, Carmagnola, os artífices,  i vitrei,
Para lá, certo tempo, tempo após tempo,
E as águas mais ricas do que o vidro,
Ouro bronzeado, brasa sobre prata,
Potes de tinta à luz do archote,
O clarão de vagas sob proas,
E os bicos de prata erguendo-se e cruzando-se.
                Árvores de pedra, alvo e rosalvo na treva,
Ciprestes pelas torres
                Amontoados sob cascos, À noite.
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EZRA POUND (1885 – 1972) – Os Cantos
(tradução e introdução de José Lino Grunewald)

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