quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A CABRA


Falei a uma cabra
Estava sozinha no prado, amarrada,
De erva satisfeita, molhada
pela chuva, balava.

Aquele monótono balido era fraterno
da minha dor. E eu respondi, primeiro
por brincadeira, depois porque o sofrer é eterno,
tem uma voz e não várias.
Essa voz eu sentia
gemer numa cabra solitária.

Numa cabra com traços semitas
sentia as queixas de todos os outros males,
de todas as outras vidas.

UMBERTO SABA (1883 – 1957) – Poesia (uma antologia de Il Canzoniere)
(selecção, tradução, introdução e notas de José Manuel de Vasconcelos)

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