[do observador no velório de CDA]
A tempo de descrever
a fabricação do luto:
o punhado de letras
apanhadas ao acaso
para formar o nome preciso.
Uma a uma com seu aspecto
prontas para serem pregadas
com zelo de profissional
no quadro preto de lã
sem desconsolo e lágrima
sem se sentir sozinho
diante daquelas sílabas
soletradas pelo mover
mudo dos lábios, no silêncio
(como se fosse uma prece)
da capela vazia, antes
da chegada do corpo:
um erro na composição
do nome foi corrigido
mas a morte incorrigível
já tinha chegado, há tempo.
ARMANDO FREITAS FILHO
do livro
Dever a ser publicado em Maio de 2013
(poema inédito publicado no Jornal Público de
17.08.2012, a páginas 23)
[Armando Freitas Filho, poeta brasileiro, festeja 50
anos de poesia em 2013 e publica um novo livro, Dever, onde se poderá ler o
inédito acima]
[CDA – Carlos Drummond de Andrade]
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