Ó minha desconhecida
Que formosa deves ser…
Dava toda a minha vida
Só para te conhecer!
Mais fresca e mais perfumada
Do que as manhãs luminosas,
A tua carne dourada
Como há-de saber a rosas!
Da minha boca de amante
Será o manjar preferido
O teu corpo esmaecido
Todo nu e perturbante.
Que bem tu me hás-de beijar
Com os teus lábios viçosos!
Os teus seios capitosos
Como hão de saber amar!...
Os teus cabelos esparsos
Serão o manto da noite,
Um refúgio onde me acoite
Do sol dos teus olhos graços.
Olhos Gracos, cor do céu,
Cabelos de noite escura;
Será feita de incoerências
Toda a sua formosura…
Os dias que vou vivendo
Tão desolados e tristes
É na esp’rança de que existes
Que os vivo… e que vou sofrendo…
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890 – 1916) – Poemas Completos
(edição de Fernando Cabral Martins)
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