sábado, 4 de agosto de 2012

TEMPO

Talvez um bálsamo ignorado se derramasse
sobre a sua cicatriz.
Como um perfume,
como o toque subtil de dois dedos exangues.
Ao voltar à direita,
a caminho do guindaste,
sabia que o esperava uma barca sem remos,
e mais para cima havia um alpendre, com
trepadeiras que subiam.

Era isso o que o tempo fazia:
recomeçar, eternamente, um trabalho de oficinas
lentas.
Enredar no peito roseiras queimadas pela
estação das trevas.

E assim ia,
deambulando pelos campos,
com um archote inútil, que o vento apagava.

JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA (1948) – Filho Pródigo

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