Ó Terra doce e boa,
Ó minha amante gorda!
CAMILO PESSANHA
Quando se deslocava ao longo da avenida,
parecendo saltitar entre automóveis
e outras coisas postas na rua, tais como móveis,
bidés partidos, copos com restos de bebidas,
não se sabia bem a idade que tinha
nem a raça a que propriamente pertencia.
Estou na posição que um assassino em série escolheria,
a aguardar a primeira vítima, a olhar no tecto a ventoinha.
Até estremeço ao sentir uma cavalgada
dentro da minha cabeça, qual nuvem louca.
Evaporar-me, dissolver-me, procurar a tua boca
Por entre toda esta população desnorteada,
e ir dar a nada, ir dar a coisa nenhuma.
Pudesse eu tomar a Terra como amante
gorda, voltaria a ter esperança num instante
e refastelar-me-ia entre pó e bruma.
HELDER MOURA PEREIRA (1949) – Se as Coisas Não Fossem o que São
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