quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TOMA TOMA TOMA


Ainda prefiro os bonecos de cachaporra,
contundentes, contundidos, esmocados,
com vozes de cana rachada e um toma toma toma
de quem mão usa a moca para coçar os piolhos,
mas para rachar as cebeças.

O padreca, o diabo, a criadita,
o tarata, a velha alcoviteira, o galã
e, às vezes, um verdadeiro rato branco trapezista,
tramavam para nós a estafada estória
da nossa própria vida.

Mundo de pasta e de trapo
que armava barraca em qualquer canto
e sem contemplações pela moral de classe
nem as subtilezas de quem fica ileso
desancava os maus e beijocava os bons.

Ainda prefiro os bonecos de cachaporra.

Ainda hoje esbracejo e me esganiço como esses
matraquilhos da comédia humana.

ALEXANDRE O’NEILL (1924 – 1986) – Poesias Completas
(introdução e organização de Miguel Tamen)

Sem comentários:

Enviar um comentário