Vai na lagoa um cheiro de maré,
cheiro de juncos, o que a tarde teve.
Mulheres da monda mondam na maré,
de joelhos nus, ao sol dum dia breve.
Aquieta-se com modorra a planície,
os olhos das mulheres gotejam sono.
É quase raiva a praga que se disse
à carne arrepiada do Outono.
Asas descem o dia, um olhar estreita
aves e campos. Sob os céus doirados,
juncos colhidos a um sol de mágoa.
Corre a lagoa um frio de maleita.
E coras. Os sapos abismados
espreitam teus seios pelo espelho da água.
CARLOS DE OLIVEIRA (1921 – 1981) – Trabalho Poético
Sem comentários:
Enviar um comentário