segunda-feira, 27 de agosto de 2012

DO FAUSTO


Alta Montanha

Picos recortados, de penhascos agrestes.
Uma nuvem aproxima-se, encosta-se à parede rochosa
e desce sobre uma plataforma saliente, dividindo-se.

FAUSTO (saindo da nuvem):
Olhando a meus pés a mais funda das solidões,
Meditativo, toco a orla deste cume,
Abandonando a nuvem que me transportou
Suavemente, em dias claros, por terra e mar.
De mim se afasta aos poucos, sem se dissipar.
Sua massa compacta p’ra leste deriva,
Segue-lhe a rota, cheio de espanto, o meu olhar.
Divide-se em curso, ondeia, multiforme.
E ganha forma já! O olhar não me engana!
Majestosa, deitada em coxins de sol,
Gigantesca e divina forma de mulher.
Vejo-a! Parece-se com Juno, Leda, Helena,
Oferecendo-se, nobre e bela, ao meu olhar.
Ah, já se afasta! Informe, vasta, acastelada,
Repousa a leste, como um glaciar ao longe,
Reflectindo a grandeza de dias fugazes.

[…]
JOHANN WOLFGANG GOETHE (1749 – 1832) – O Jogo das Nuvens
(selecção, tradução, prefácio e notas de João Barrento)

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